terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Revisitando

Aí que nos últimos três dias ando tendo insônias inexplicáveis, de deitar com sono à noite e conseguir dormir apenas na aurora do outro dia. Atravesso quatro ou seis horas de escuro, lembrando das pessoas que já estiveram perto, mas que agora são fragmentos de alguma coisa chamada saudade. Sem saber se essas memórias me acompanham ou se são o que me mantêm acordado, lido com o agravante da dúvida. Depois de muito lutar contra o esforço do meu corpo em desobedecer a minha vontade, adormeço. E sonho com todas aquelas pessoas que me visitaram em pensamento, por tantas horas. E elas parecem estar vivas, tão reais e espontâneas, roubando minha atenção por longas conversas. E, como em uma queda de sinal da operadora de celular, a nossa conversa cessa com meu despertar. E me acordo sentindo que fiz uma pequena volta ao passado, num intervalo que eu queria que fosse maior, mas que, por vezes seguidas, parece que pude escolher tê-los. As pessoas, os lugares, os momentos. E agora, depois de 72 horas, e poucas destas dormidas, não consigo negar que quando olho para o meu quarto, no meio daqueles armários, aparelhos, quadros e revistas jogadas, vejo uma máquina do tempo, que me deixa revisitar-me todos os dias, às migalhas.



Lucas.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Guia Interior




(...)

Nós podemos percorrer o mundo à procura da sabedoria, encontrar todo o tipo de sábios, seguir todo tipo de trabalho espiritual, yoga ou meditação. Nada disso serve à grande causa se não se tivermos tido contato com o guia interior. Nós todos temos o nosso, discreto, prudente, infalível, mas é preciso que nós ofereçamos a ele a nossa confiança, que é de longe a única coisa que ele exige de nós. Feito isso, ele não nos trai jamais.

Esse guia é o gosto.

Se entregar a ele é correr o risco de não se decepcionar jamais.

- Mesmo no amor?

- Sobretudo no amor.



Nina, traduzindo o texto Guide Interieur, do livro Petit Eloge du Sensible, de Elisabath Barillé.


segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Vampiro banguelo


Minha mãe, sempre com manobras para instaurar em mim bons costumes, como escovar os dentes, fazia uma careta que eu considerava assustadora e dizia com voz tenebrosa:

"eu sou o vampiro banguelo"

e eu meio que me compadecia do vampiro banguelo , que ele não tinha amigos ou namorada, e conversava com ele. Porém, nesse dia eu não aguentei. estava num momento de estresse, depois de ver a clássica novela Vamp, e o vampiro querendo interagir, eu chorei e disse:

"mas não! não! eu não quero vampiro banguelo! eu quero o príncipe banguelo!"

e minha mãe saiu de sua fantasia e chorou de rir e a veia dela apareceu e eu chorei, chorei, porque não era possível aquela chacota, do que é que ela ria?!

No que ela me diz "hahaha, Nina, não adianta, príncipe banguelo, vampiro banguelo, é tudo a mesma coisa. Você tem é que ir escovar o dente."

E eu fiquei sem entender, ainda com medo de ela fazer o vampiro banguelo (tinha medo de vampiros e palhaços).

Odeio vampiros.
Ainda mais os banguelos.

Nina.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Amor Lévyano

Nize Pellanda: O amor, [Lévy suspira e os entrevistadores riem] banido da ciência clássica, como atrapalhador do conhecimento, volta na sua obra, e também na de outros cientistas complexos, como categoria cognitiva fundamental. O que você poderia dizer sobre isso?

Pierre Lévy: Nize, agradeço muito por me fazer essa pergunta [risos]. Mais uma vez, temos de recorrer à experiência pessoal. É impossível compreender realmente alguém, um ser humano que está à nossa frente, sem amá-lo. Quando amamos alguém, tentamos nos colocar em seu lugar, entender seu interior, aproximamos nosso coração do coração dele e o entendemos. Há uma profunda relação entre conhecimento e amor. Entre duas pessoas, é evidente. Mas, mesmo em termos científicos, quando vemos a forma pela qual os entomologistas estudam formigas ou abelhas, se eles não as amassem, será que poderiam passar anos e anos estudando-as? Quando queremos conhecer uma coisa é porque a amamos. A relação entre conhecimento e amor é muito profunda. Eu diria também que, no plano filosófico, é algo que iria requerer longas explanações, mas, no fundo, o que é pensamento? Deleuze dizia que há uma forte relação entre pensamento e aprendizado. O pensamento não é o reconhecimento de algo que já sabemos. Temos um conceito, vemos uma coisa e, aí, tal coisa é tal conceito. Não é nada disso. É algo que antes não sabemos, que antes é caótico e incerto e que, de repente, nós produzimos. Então, produzimos um conceito, uma representação, que emerge juntamente com a percepção que temos de alguma coisa. E, por isso, temos de nos transformar. Temos, talvez, de abandonar velhos conceitos para produzir algo novo. Somos obrigados a nos tornar outra coisa. O que é aprender? É abandonar velhos reflexos, abandonar os preconceitos e penetrar em um conhecimento diferente. E isso é doloroso. É aceitar se transformar, aceitar ir em direção à alteridade. Aprender é isso. Pensar é isso. Ir em direção de outra coisa. É transformar-se, não é? Porque ser, pensar, aprender, tornar-se é a mesma coisa, não é? Somos o que sabemos, o que experimentamos. Nós nos tornamos o que aprendemos. É o movimento de ir em direção ao outro, à alteridade. O que é o amor? É ir em direção ao outro. É aproximar-se do outro, sair de si mesmo. Se quisermos ser, estando realmente vivos, temos de sair de nós mesmos ou acolher o mundo em nós, acolher o outro em nós. O amor é a mesma coisa. É ir em direção ao outro ou acolher o outro em si, tornar-se o outro. Para mim, não somente há uma identificação entre conhecimento e amor, mas, também, a identificação entre o conhecimento, o amor e a existência, a mais intensa e viva.



Pierre Lévy, em entrevista ao Roda Viva, 2001.

Porque o filósofo estará aqui amanhã e será entrevistado por Yuri. E porque disse sábias palavras sobre o amor.


Nina, tiete de Lévy.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

#thanksgiving

Eu sou grata pelos amigos que passaram por aqui, seja o aqui um lugar de fluxo e atemporal.
Obrigada até pelas brigas e partidas, que constroem nas pessoas.
Agradeço, sobretudo, às gentilezas de quem é gentil, assiduamente ou não. A percepcao da gentileza é a minha maior gratidão, neste ano.
Obrigada ao tempo que se vai e à sua imprevisibilidade das próximas gratidões. Na imprevisibilidade estão as surpresas, boas ou más, que nos transformam e nos fazem evoluir.
Feliz thanksgiving.
Nina.

sábado, 6 de novembro de 2010

Sentimento derretido



Quando se conhece há uma semana, se procura todo o tempo.



É festa de olhar, é brisa de sorriso.



É preciso atrasar e adiantar rotina para manipular o acaso.



Toda palavra, toda gíria e todo riso é canto.



Quando se vê pouco, o tempo tem que ser bem gasto.



Porque ele já vai cedo, mesmo que o reencontro tenha vindo tarde



Cada segundo precisa ser preenchido, porque é finito.



As utopias vão sendo desconstruídas pelo tempo.



O tempo é uma fera que derruba, arranha e arde.





Nina, que ainda mantém uns poucos Cesares que o tempo não consegue derrubar.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Damas, valetes, ases e o vento.

O castelo de cartas estava imóvel (finalmente) mas ninguém podia ouvir música alto, ou bater na mesa, ou soprar forte. As janelas estavam fechadas, e nem ventando estava.

E todos com calor, e todos felizes de terem terminado aquele lindo castelo de cartas, até que alguém disse “e um pôquer?”, e olharam com rechazo, absurdo, depois de tanto tempo até conseguir aquela façanha. E o pôquer?, repetiu, mas a gente não ia se reunir para jogar pôquer?

Ele foi mais para lá, abriu sua cerveja, abriu a janela para fumar um cigarrinho. E nesse momento bateu um vento, e abanaram os braços para dizer “fecha a porra da janela!”, mas já era tarde. Passou a brisa, derrubou o castelo do pôquer. E todo mundo triste, todo o trabalho no lixo, e ele disse “beleza... Agora... vocês vão refazer, ou a gente pode jogar pôquer?” e todo mundo triste, e todo mundo no chão, mas Fulana disse “pode ser burrinho? Eu não sei jogar pôquer.”

Vá lá. Uma partida de burrinho, uma de pôquer, e mais tarde, bem ébrios, a gente reconstrói um castelo, de latas de cerveja. Que latas de cerveja são mais estáveis. E cartas de baralho, essas são mais versáteis.


Nina, de presente para Aline.

Para ouvir lendo, Suite Royale, da Maison Tellier! http://www.youtube.com/watch?v=Ih_jJ0kWmcI

Suporte para livros

Dois suportes para um livro. Dois suportes para dois livros. Dois suportes para três . Dois suportes para quatro. E logo, para vinte. A mesma ética para tantos pecados, de tantas páginas. Por mais diversas que sejam suas notas de rodapé, suas aspas e suas observações. E tanta gente limpando suas estantes com álcool em pano úmido. Tentando ser fiéis, mas estão trapaceando, traindo e mentindo.


Lucas.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

pra quem vira a esquina

olha, eu posso até te mandar embora, mas nunca vou tirar a cópia das chaves debaixo do capacho, só pelo vício de te ver voltar e abrir a porta, olhar as horas, limpar os pés e me procurar pelos quartos, pelos corredores, pelas varandas. o amor é isso, todo torto, todo espinhoso, é uma flor bela e cheirosa, mas tem seus espinhos, atrai insetos que te picam e envenenam, é uma moeda que gira que gira que gira, meu amor é isso. mas você, sabe-se lá por qual encanto, por qual sorte, por qual sina, nunca rejeita, nunca maltrata a flor vaidosa, que ora enaltece ora humilha, ora afaga ora pisa, você vê no início do dia que eu, quando olho o espelho, em troca cedo um olhar sem sonhos à contemplação, e parece que te basta como desculpa, como se isso soprasse o arranhão de minhas unhas. meu amor é isso, espécie de ouriço, remédio pra tosse, dose de ócio, oásis de tédio, vício. de ouvir atrás da porta o murmúrio dos teus passos, se agachando pra apanhar as chaves debaixo do capacho.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Silogismos falhos

Eu estou meio desafogando aqui porque desde ontem eu vejo esses argumentos que nem tem contra-argumento porque ele em si já é estúpido. Daí eu não gasto meu latim para contra-argumentar.

Em uma feliz saída com meus antigos colegas de colégio, estavam falando de tropa de elite, de que direitos humanos é balela, e de que bandido tem que morrer mesmo.
Eu fiz o Ahn, ahn...
E falaram, ah, é, Nina não é dessas, ela é de humanas.

E é, gente. Poizé.

O problema dessas argumentações imorais é que elas são tão imbecis, tão deglutiveis que todo mundo engole. Daí fica todo mundo sem realmente pensar no que está dizendo e repete, repete e tem seguidores.

As pessoas não enxergam o Outro. Mas elas nem tentam, dependendo do outro:

É bandido, joga no Raso da Catarina, diria uma mulher admirável que conheço. Isola, tira da sociedade. É nordestino, afoga, diria @mayarapetruso.

Isso é tudo farinha do mesmo saco. É por conta de pessoas assim que atrocidades encontram justificativas. É por conta de argumentos desses que matar o Mau é bom, quando ensinaram a nós que matar não deveria ser bom nunca.

Esses silogismos, que encontram força na sua falha, são o que move o mundo atualmente.

Nina, ainda indignada com o que a rodeia.

Yet we are proud we beat the Nazis?

Nessa monótona segunda feira, feriado estipulado, vim ao Twitter e me deparei com esse tweet da @alesie: caralho, que gente horrorosa .

E eu li, e comecei a rir. Porque, na verdade, eu não consigo muito bem lidar com tamanha ignorância.

Lembrei-me de uma situação onde um bairrista de barretos (que fonética!) dizia ter orgulho de ser barretense. Dizia, em uma mesa, que o nordeste era um atraso.
Estavamos eu, Julia, (uma cearense apartada de seu país e de sua região, que morava na Africa), e Orhan, um inglês de origem turca.

Tudo isso em uma comunidade internacional.

Sim, o barretense fazia sua verborragia em um inglês primário, dizendo que o nordeste era a escória e que era só esmola e que são paulo era como a Europa e que o nordeste era como a África.
Júlia disse que, para início de conversa, ele nem sabia o que era a África.
Eu e Júlia, na verdade, não conseguiamos rebater os argumentos porque eles eram tão fluorescentemente imorais que eram ridículos por si.

Orhan apenas dizia "oh my! Really?" Com o seu sarcasmo que alguns notavam. Não nosso bairrista raso.

Não vou me delongar em tal historia, mas o que eu tiro disso é que nem sempre é possível argumentar. O problema é o vácuo do bairrismo, que não deixa o que não é aceito preliminarmente entrar na mentalidade hermética de seus indivíduos.

Essa iniciativa, do link, é uma vitrine de um povo hipócrita.


O/a @vovo_panico, que reclama que o sul e sudeste terá de trabalhar mais 4 anos para manter o bolsa familia, e é seguido/a por mais de cem mil pessoas. Ídolos, ídolos, sempre atrás da :V sábia palavra, da ética, né?

Já a @mayarapetruso diz que nordestino não é gente, fazer favor é de matar um nordestino afogado. A gente não é gente. A gente nem tem alma. Será que a Mayroca estudou e ficou chocada com tal argumento usado com os escravos? ai, essas coisas retrógradas!

O @henrigpierre diz que só é feio quando a gente fala mal de Nordestino. É não, querido, é não! É feio sempre, com qualquer um. O problema é que quando se fala mal de nordestino, o negócio realmente é sério. Existem irmãos seus que de fato fazem nazismo pelas terrinhas, e isso precisa ser combatido. E a gente não se sente menor, e por isso se ofende. A gente se ofende porque quem fala, não sabe o que diz.


É mentalidade assim, pessoal, que a gente combate. Mas isso eu sei, você sabe. Com quem não sabe, a gente faz que nem o Orhan: toma um chá e diz "I know, I know. He does not know what he´s talking about. He´s ignorant, he thinks he´s seen it all, but he has not. Dont worry..."
É, Orhan. Você sabe como é, esse povo que acha que há melhores e piores, que diferencia preto de branco, sul de norte, turquia de inglaterra, não sei por que critérios.

Nina, que sabe que o mundo é grande e que tem babaca em todo lugar.
Para ouvir lendo - http://www.youtube.com/watch?v=lmSgP711jfI A irônica Arbeit Macht Frei dos Libertines:

"Her old man
He dont like blacks or queers.
-Yet he´s proud we beat the nazis?
(How queer...)"

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Murs

Guilliana, do filme que vi ontem é uma mulher transtornada. Sofreu um acidente e desde então ela acha que vive em um plano inclinado. Talvez por isso ela ande tão próxima às paredes, para sentir menor a sensacao de que está caindo.

Em uma das cenas, ela diz que gostaria de ter próximas dela todas as pessoas que já a amaram. Como uma muralha. Giulliana queria que, caso caísse, tivesse de muro uma pessoa que já a amou.

Esse muro é falho, Giulliana. Você não sabe se o amor das pessoas ainda é o mesmo. Você não sabe se pode confiar na sua muralha.

Caso haja buraco nesse muro, é preciso que você tape os buracos. É preciso que fiquem os bons tijolos, as pessoas que a amam, e o vazio de sua muralha você preenche consigo, e dança ciranda. Porque amor nem sempre é proteção, nem sempre é sólido. E o seu muro de amor não pode conter você, você tem que estar contida nele.

Nina, que sugere ouvir também sobre muros "Le Murs", dos Vendeurs d´Enclumes (Vendedores de bigornas) http://vids.myspace.com/index.cfm?fuseaction=vids.individual&videoid=100616420

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Sobre caçadores e Deus

Talvez já tenha chegado a era que devemos ficar abarrotados dos caçadores de afeto. Principalmente aqueles que invisivelmente esbarram na sua própria necessidade de mostrar-se abundante dele. Propagando-se discretamente ou forçosamente, salpicam imperativos naqueles que orgulhosamente deveriam ser considerados "queridos" e não preenchedores de necessidades individuais.

Ser carente é uma natureza óbvia, psicologicamente falando. Todos nós somos. A problematização da questão é em termos de auto-controle. Uns mostram que são, outros não. E aí continuamos achando que uns são e outros não, porque é sempre a aparência que dita os juízos mesmo. E talvez por causa disso que a relação direta entre carência e humanidade esteja ainda distante de ser considerada um juízo analítico, e cá estou eu argumentando que poderia até não ser mais um juízo sintético. Mas obviamente, o é.

É apropriado que seguremos as rédeas do cavalo em que estamos montando, não deixando que ele cavalgue apenas atrás de nossas necessidades imediatas ou pueris. A construção do auto-controle é, em parte, o que distingue alguém extremamente maduro de alguém extremamente débil. E uma hora temos que parar de nos preocupar com sermos completados com pessoas, arte, funcionalidade, e passarmos a exercitar nossa suficiência em si. E, em seguida, cuidar pra que não fiquemos muito niilistas depois.

A verdade é que a concepção de um Deus onisciente, onipotente e onipresente foi elaborada pra resumir que o conceito desta Entidade é que ela é independente de tudo e de todos. E apesar de, em última instância, ser um objetivo utópico para reles mortais, chegar mais perto dessa situação é se tornar mais Deus. O convite é esse. Deus é de quem chegar primeiro.


Lucas.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

:V :)) (sábias palavras gordinhas)


Estavamos na casa de Lucas, em uma saída que uns chamariam de gastronômica, outros de acolhedora, outros de gordinha. Era tudo isso. Eu cozinhava um macarrão, Aline cortava e comia uns queijos, Lucas dizia para eu não derrubar o macarrão na pia (tolinho), e então comemos, lavamos os pratos, Yuri, que já tinha chegado, abriu a geladeira e viu três copos de nescau. Como chamam aqui, nescau = leite + chocolate, ambos em pó, diluídos em água.
Os copos tinham até filme plástico.

E tome uma discussão por que diabos aqueles copos de nescau ali, Lucas não pode levantar a bunda 2 min mais cedo e dissolver duas colheres de ninho e duas de chocolate na água? Mas eu sempre saio com pressa. e por que não comprar o nescau de caixa? porque eu não gosto.

Eu prefiro. Olha, para mim, leite vem da caixa e não da vaca porque eu não curto essas coisas organicas n. Mas nescau de caixinha vem com aquele gostinho a mais de chocolate, e como lucas não prefere aquele lá?

Ora, lucas gosta é de um nescau homemade. Um nescau como a atmosfera do dia, um nescau gastronomico e acolhedor. um nescau com gostinho desses que a mãe te prepara e te leva na cama, para voce comecar bem o dia.

eu sonhei com essa historia do nescau.
era o seguinte
aline, yuri e eu estavamos em um supermercado comprando os ingredientes para fazer o nescau homemade, e eu comecei a dizer que na verdade o nescau era um exemplo de como nós precisamos fazer manobras para colocar na nossa vida tão corrida um pouco de calma, um pouco do carinho da mãe na cama. e isso, do nescau, sua composicao, na verdade era uma grande crônica da vida moderna.
era mais ou menos isso.

Lucas é um lutador. Lucas tenta enfiar um pouco menos de instantaneidade na sua vida. Mas tem gente que não compreende. Tem gente que acha que aqueles nescauzinhos na porta podem muito ser substituidos por um de caixinha. atualmente, até a vitamina de banana pode ser comprada em potinhos, caixinhas, tudo por aí, pela rua. adeus liquidificador.

Eu entendo, Lucas, que você tem pressa, mas não quer perder de tudo, e mais importante, não quer perder depressa.
porque a vida é tão rara :D
E o nescau homemade da mamãe deixa as manhãs da sua vida mais aconchegantes, mais gastronomicas, mais gordinhas.

Nina, gordinha, em um texto que saiu muito tempo depois de ser concebido.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Contenidos

Esse silencio forçado, esse silêncio abafado, esse silêncio cortado pela respiração
Essa overdose ofegante, mais ofegante porque abafada, essa vontade contida, essas caras excessivas
Essas caras selvagens porque o ruído é domado
(Não somos contidos
Contidos estamos, em nós mesmos, e no quarto, e na sala, e no escuro)
Descontenhamo-nos, descontando em nós mesmos por vias diversas,
Contentes, constantes, cantantes e contidos.
Sorrisos desmedidos, sono abissal.



Nina, e esses contenidos ruidosos.

Kaleótico




O panoptico de Bentham não representa apenas a estrutura física que auxilia a estrutura disciplinar oferecida aos presos no século XVII. Trabalhada por Foucault já no século XX, a estrutura do panóptico foi levada adiante, como uma representação da vigilância a que a sociedade está sujeita nos dias atuais. O autor contemporâneao afirma que a observação e a disciplina permeiam toda a sociedade, e que não apenas instituições como a Igreja, a escola e a policia vigiam os indivíduos. Nós mesmos nos vigiamos: Vigiamos a nós mesmos, e aos outros.

Vigiar-se a si para andar na linha e vigiar ao outro, para que ele também ande, é papel inerente a todos nós, desde que conhecemos o que é normal. O normal é a linha. Mas uma linha é algo abstrato. Linhas podem ser representadas por uma corda. É difícil andar em cordas.

A loucura pode ser o que está fora da linha, ao lado da linha, tocando a linha. Porém, o que define a linha? Somos nós, nossos processos de disciplina para a manutenção da normalidade e da ordem. Somos nós os vigilantes do panóptico, apontando os comportamentos de nossos vigiados. Somos nós observantes e observados.

Luiggi Pirandello, em seu livro "Um, Nenhum, Cem mil", tenta encontrar a sua própria imagem no espelho. Porém, a imagem olha para ele, e assim que Gegê (nome do autor-personagem) enxerga-se no reflexo, já não é o mesmo Gegê que não tem olhos sobre si. Pirandelo queria flagrar-se a si, em um momento onde ele não estivesse sendo observado. Tarefa árdua. Ele afirma que a partir do momento onde pousam olhos sobre o individuo, esse já se modifica, para caber em moldes tais e tais.

No panóptico, os encarcerados recebiam uma determinação coercitiva. Segundo Foucault “o indíviduo se transforma no objeto de uma informação, nunca sujeito em uma comunicação” (p. 166). Taxar o individuo excluir a sua alteridade só o torna mais fragil e propenso ao poder dominador. Taxar indivíduos não é o importante. Vigiar e punir não é o fundamental.

Fundamental é saber que a linha da normalidade é uma corda que não deve amarrar e prender, mas servir de apoio para que as pessoas caminhem em bem-estar consigo mesmas. Que olhem para si, se vigiem em seu bem-estar, e que esse bem-estar seja o parâmetro de normalidade.

Nina - Editorial de loucura (com os erros de revisão, marca registrada da autora).

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Liberdade enclausurada



Eu, confesso, fui rude em dizer que você estava preso
Quando, na verdade, está claramente livre.
Mas, sendo sincero, mesmo eu estando preso
Estou livre na minha prisão
E você, orgulhosamente livre, está preso na sua escolha.
Desde o começo, eu admiti a ideia de você estar livre.
Per si, eu estou preso.
Mas estou aberto na possibilidade de eu estar livre.
Você, livre, mas preso na sua certeza, não admite a possibilidade de estar preso.
Errado na minha opinião sobre a sua liberdade, eu estava certo.
E você, certo sobre sua liberdade, estava errado em atitude.
Tranquilo, eu estou aqui, preso.
E você, angustiado e livre, não está.

Lucas.

(Agradecimentos especiais para Millôr)

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Roda Gigante


Dai que Nietzsche falava sobre um tal de Eterno Retorno que é meio frustrante, meio reconfortante. Que fica no meio termo entre o copo metade cheio e o metade vazio. E entre tantos meios e metades que são esses, é que parece que criamos a nossa identidade. Parece que moramos no tempo que se repete indefinidamente, quando quer:

Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência”. (A Gaia Ciência)

Ora, meio que faz sentido. Não somos cada vez mais afeto e cada vez menos afecto com o passar do tempo? Não criamos raízes tão profundas que a direção do nosso crescimento se torna linear e previsível? Ao contrário da criança que aprendeu a falar agora, não somos mais um mundo de possibilidades. Somos um mundo de escolhas forçadas e, ao mesmo tempo, consentidas.

O bem e o mal, o prazer e o sofrimento, são instâncias complementares da realidade. E como a realidade não tem objetivo, pois se tivesse já teria o alcançado, a alternância entre elas é constante. Dado que o tempo é infinito, tudo se repetirá, inúmeras vezes, em “loops” eternos.

Há um certo desconforto confortado nessa ideia. Mas há também a segurança da previsibilidade daquele seu amanhã vindouro. Quanto a mim? Que venha. Quero viver tudo de novo, de maneiras diferentes. Topar e escorregar nos mesmos lugares e rir das mesmas contradições. Parece que, no final das contas, entrar na máquina do tempo não é só uma ilusão.

Lucas.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Rastro indelével.

Quem escreve, escreve muito. Aproveita metade de um sentimento pra fazer uma poesia inteira. Amiúde, uma poesia de sentimentos passageiros, com prazo de validade, daquela que daqui há dois meses será um não-sei-o-que sobre algo-aí. Mas em cada poeta, em cada prosador, há frases feitas. Frases que a vida o ensinou, regências e léxicos que foram aprendidos através dos sentimentos que duraram e que ficaram. Soluções banais para expressar sentimentos raros.  E usadas a todo momento pra mostrar o luto ou a alegria, acabam se tornando essa miscelânea de distinguidos iguais. Uma marca, uma assinatura disfarçada, figurante e protagonista do nosso livro em construção. Todo texto do mesmo autor é, ultimamente, o mesmo texto, reorganizado, ressentido, reamado, reembaralhado. É por isso que quando o fim de meus dias chegarem, embrulharei de herança um único texto, aquele meu último, que de um jeito ou de outro, carregará todos os sentimentos que eu tive na vida. E, até lá, acho que minha poesia está mesmo precisando me demitir como funcionário, os meus textos ficam muito melhor quando estão assim, sem mim.


Lucas.



quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Uma parte de nós

23 de setembro. Para você, um dia normal. Vai trabalhar ou estudar. Vai assistir um filme, ler um livro ou jornal. Vai se ocupar de coisas e de alguéns. E vai dormir tranquilo, numa véspera de sexta-feira. Hoje, 23 de setembro, num país chamado Alemanha, uma grande amiga, dos tempos de inocência, perdeu o filho que carregava no ventre. Avisou-me por e-mail. Chorou, em palavras curtas, um luto novo. E mesmo fazendo algo como 4 anos que não nos falávamos, fez questão de me contar a perda de algo tão importante. Houve o tempo que trocamos brincadeiras, que trocamos sorrisos. Houve o momento que me disse, carinhosamente, que batizaria de "Lucas" o seu primeiro filho. E hoje, depois de ler esse aviso, compartilhei do seu sofrimento. Eu perdi uma parte dela e ela perdeu uma parte de mim.



Lucas.


segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Sobre a menor distância entre pontos distintos

Às vezes a distância não é apenas uma questão de ponto de vista. Às vezes, é de ponto de tato. De ponto de olfato. De ponto de audição. É acima de tudo uma privação de todos esses pontos, uns mais, outros menos. E, ainda às vezes, esses pontos são tantos que se tornam retas.

Lucas.


sábado, 11 de setembro de 2010

70% cacau

Leveza temos que ter neste momento que não damos conta de nós mesmos. Não no florescer das lágrimas da maior dor que nos existe, mas no momento de sanidade, a sanidade culpada e vazia que nos encara. Queria me vestir a caráter do meu caráter. Descartar-me de mim mesmo, tirando as peças de roupa que as esperanças alheias me vestem. A completude vazia de uma folha em branco me é, nesse momento. Nego qualquer ethos que minhas palavras respirem. Qualquer saliva seca que meus olhos demonstrem. Não quero mais respirar fragmentos das memórias que me encurralam. Um dia, há de haver, e haverá, a vingança das experiências que trouxeram força e resistência. Um dizer não. Um enfraquecer de tão forte. E quando essas lágrimas finalmente descerem pelo rosto seco por costume, pelos lábios molhados por uma sensação tão nova, mas tão velha, renderei-me a mim mesmo e tudo aquilo que levantou o cimento de minhas veias. Sentirei saudade daquela fragilidade inocente que chamei de lar, que chamei de chão. E darei boas-vindas à amargura do café que resolvi ter como refeição. Desculpe, Mundo meu, se as costas que te virei são tão rudes que parecem reais. A verdade é que a falta da cor que carrego comigo é o preço do esforço que, involuntariamente, assumí.



Lucas.


terça-feira, 13 de julho de 2010

Embrulho

Um desejo. Dentro de uma caixa, dentro de outra caixa. Em algum depósito no qual jogamos nossas mais queridas esperanças. Esperando pra ser resgatado. Desbotado, rasgado e com remendos. Sorrindo de desespero, abraçado em qualquer imaginário que parecia tão real, mas tão real, que continuou imaginário. Ideia. Tocável e tocante, por si, completo. E por ser completo, sozinho.


Lucas.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Ser artificial

Ter um jardim só pra que elogiem as flores. Lutar pelos direitos das minorias e estacionar na vaga de idosos. Usar terno na reunião, pra disfarçar a regata. Rezar pelos pobres e virar a cara quando eles limpam o vidro do carro. Oferecer o doce e torcer pra que não aceitem. O pedaço de hipocrisia que damos, ou vendemos ou alugamos a preços módicos. Que tal andar de carro todo dia sozinho quando se luta pelas causas ambientais? Que tal defender a vida e fabricar estofados de couro? Um suco de limão bem azedo que colocamos açúcar. Uma latinha de refrigerante light. As palmas do parabéns a você. Foi um prazer te conhecer. Também te amo. Te ligo amanhã. Juro que dessa vez eu ligo. Li Dosteivski.

Lucas.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

"não os tire do mundo, os livre do mal"

pedro cresceu, mas não mudou.

ele viu que vale a pena confiar nas pessoas, apesar de todos os riscos. que não adianta se fechar para o mundo, pois coisas ruins sempre acontecem. e inesperadamente. mas as boas também são assim.
ele também percebeu que nada é imperdoável. que todo mundo erra, mas persistir no erro é canalhice. porém, até os canalhas devem receber o perdão. guardar rancor não faz bem.
ele entendeu que não devemos nos arrepender das escolhas erradas, mas aprender. que as primeiras experiências são apenas isso - primeiras, não últimas. E não é bom se apegar a elas.

pedro já confiava nas pessoas, perdoava, aprendia com as escolhas erradas e não se apegava às primeiras experiências. mas agora ele faz tudo isso por opção. ele não mudou, mas cresceu.

texto de aline e título de nina

sábado, 30 de janeiro de 2010

Andrea Doria


Deve ser algo exclusivamente meu... Não, não posso ser tão pretensiosa.
Quiçá um sentimento do mundo, guardado em baús enferrujados e somente eu tive coragem de abrir... Tampouco, não seria capaz desta façanha.
Sensação de poucos, muitos ou somente minha, a realidade é que percebo o quão difícil é "dever favores". Chamo de Favores aquelas confidências trocadas por pessoas que veem no outro uma extensão de si mesmos. Funciona da seguinte maneira: eu te conto minhas mazelas, você me conta as suas. Eu guardo seus segredos e você, os meus.Trocamos favores.
Mas, e se algum dia você não se sentir confortável para contar seus pequenos mistérios, ou a outra pessoa passar a não te considerar confiável, o que fazer com os favores de outrora?
As possibilidades são infinitas: jogar pela rua, num cesto de lixo, num navio afundado, num pequeno caderno aberto em cima da mesinha de cabeceira.
Ou esquecer.
Uma pena que a última possibilidade fica apenas no mundo das ideias.

"Quero ter alguém com quem conversar. Alguém que depois não use o que eu disse contra mim."


[Tali, sobre sua tentativa de autossuficiência em favores. ]

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Balança? Balanço.


"quando eu e aline chegamos no céu, nós viramos pros milagreiros de lá, e competitivas que somos, pedimos uma balança. dissemos 'quando éramos vivas, essa daqui dizia pra mim que eu não podia amar ela mais do que ela a mim. e eu tô aqui, pra medir e provar ela errada.' o anjo achou aquilo muito briga de casal, indicou uma casa tipo 'ferreira costa' angelical, e disse que lá tinha balança de precisão do amor, e que a gente conseguiria comprar e medir. lá fomos eu e aline, já tinhamos apostado lindor - no céu eles crescem em arbustos - que ‘o meu é maior, o meu é maior’, dizíamos. e compramos nossa balança de precisão, e sentamos uma de um lado, outra do outro - a balança era de precisão, mas era old fashioned - e ficamos lá para cima, para baixo, para cima, para baixo. o amor nem de uma nem de outra era maior. o dela crescia, o meu também, e ultrapassava o dela. que ultrapassava o meu, e o meu o dela, pouquinho a pouquinho, naquele sobe e desce de balanças e crescente de amor."