terça-feira, 24 de maio de 2011

Neuro-exército

Existem aquelas dores que não perecem. Que marcham ao nosso lado, convidando-se a tomar o arbítrio, quando assim for conveniente. Essa autoridade é um trauma de infância ou trauma de adulto. É algo que foi, ou alguém que foi, ou até um tempo desaparecido ou uma grande decepção. Sempre há esse anti-herói que está pronto para nos colocar em situações que nos deixam sem mãos, ou braços ou pernas. E sem cabeça.

E, por mais arteiros que sejam os marinheiros do meu navio, e todos os motins que a anarquia lhes permite, são eles, que a meu mando, navegam dois ou três oceanos repletos de marinhas monstruosidades e intemperanças pluviais. Minhas dores e medos são meu exército, que diariamente deseja assumir o controle de meu Estado. E para cada soldado das minhas faculdades mentais, e cada guerreiro de minha sentimentalidade, dou um bom dia dedicado, mostrando todos os dentes, oferecendo um pedaço de pão do meu café da manhã.

Porque eu sei, que ao final do dia, quando eu estender meu corpo em um leito duro ou macio, são esses mesmos soldados que me fazem dormir em paz na dor. Ou, até mesmo, em dor na paz.


- Dedico esse texto ao meu pai, que é a maior saudade que eu sinto na vida.


Lucas.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Guernica




As pessoas me costumam ser telas em branco.
Eu, completamente manchada pela vida, como alguém saída de um campo de paintball,
tento deixar meus olhos e a minhas mãos limpas,
para quando vir alguém inédito, poder fazê-lo sem macular a pretensa inocência
e virtude que cada um carrega.

O problema é que atualmente eu tenho me defendido com as palmas das mãos abertas,
protejendo os meus olhos. E aí, vai ser preciso muito para enxergar cada nova tela
sem o ardor da tinta na vista, sem sentir meus vermelhos sofridos ao tocar.

Cada vez mais meus quadros me vêm pintados com as mesmas cores que colorem
todo mundo e que me atingem. E essas não são cores bonitas.
Me sinto numa galeria de Guernicas nesse mundo, com tanta gente assustada,
com cores tão feias. Meus quadros me vêm cada vez mais Guernicas,
meus quadros eu nao consigo pintar.
Nina