terça-feira, 26 de outubro de 2010

Kaleótico




O panoptico de Bentham não representa apenas a estrutura física que auxilia a estrutura disciplinar oferecida aos presos no século XVII. Trabalhada por Foucault já no século XX, a estrutura do panóptico foi levada adiante, como uma representação da vigilância a que a sociedade está sujeita nos dias atuais. O autor contemporâneao afirma que a observação e a disciplina permeiam toda a sociedade, e que não apenas instituições como a Igreja, a escola e a policia vigiam os indivíduos. Nós mesmos nos vigiamos: Vigiamos a nós mesmos, e aos outros.

Vigiar-se a si para andar na linha e vigiar ao outro, para que ele também ande, é papel inerente a todos nós, desde que conhecemos o que é normal. O normal é a linha. Mas uma linha é algo abstrato. Linhas podem ser representadas por uma corda. É difícil andar em cordas.

A loucura pode ser o que está fora da linha, ao lado da linha, tocando a linha. Porém, o que define a linha? Somos nós, nossos processos de disciplina para a manutenção da normalidade e da ordem. Somos nós os vigilantes do panóptico, apontando os comportamentos de nossos vigiados. Somos nós observantes e observados.

Luiggi Pirandello, em seu livro "Um, Nenhum, Cem mil", tenta encontrar a sua própria imagem no espelho. Porém, a imagem olha para ele, e assim que Gegê (nome do autor-personagem) enxerga-se no reflexo, já não é o mesmo Gegê que não tem olhos sobre si. Pirandelo queria flagrar-se a si, em um momento onde ele não estivesse sendo observado. Tarefa árdua. Ele afirma que a partir do momento onde pousam olhos sobre o individuo, esse já se modifica, para caber em moldes tais e tais.

No panóptico, os encarcerados recebiam uma determinação coercitiva. Segundo Foucault “o indíviduo se transforma no objeto de uma informação, nunca sujeito em uma comunicação” (p. 166). Taxar o individuo excluir a sua alteridade só o torna mais fragil e propenso ao poder dominador. Taxar indivíduos não é o importante. Vigiar e punir não é o fundamental.

Fundamental é saber que a linha da normalidade é uma corda que não deve amarrar e prender, mas servir de apoio para que as pessoas caminhem em bem-estar consigo mesmas. Que olhem para si, se vigiem em seu bem-estar, e que esse bem-estar seja o parâmetro de normalidade.

Nina - Editorial de loucura (com os erros de revisão, marca registrada da autora).

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