sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Problematização Metafísica e Sofrimento relativista

Na revista Galileu desse mês, saiu uma matéria interessante ("teoria da involução") que sugere que chegamos num estágio de involução do corpo humano. A matéria mostra dados de pessoas comuns de 10 mil atrás que superavam todos os recordes sobre-humanos de hoje, na corrida, no salto em altura, em tudo. E é óbvio que o culpado pela nossa recente inaptidão corpórea é a falta de desafios para o corpo, conseqüência da vida moderna de pipoca e guaraná. Nossos problemas não são mais a caça para comer, nem a velocidade para fugir de um predador. Nossos desafios estão cada vez mais ligados a organização social moderna. Passamos mais tempo pensando como nos organizaremos monetariamente, ou pensando em conflitos de relacionamento (seja este de qualquer tipo) com as pessoas. Ou seja, há cada vez menos problemas "tangíveis" e mais problemas de caráter psicológico, de forma crescente, como vem acontecendo nos últimos 4000 ou 5000 anos. E eu vejo duas consequências para este cenário.

A primeira é que, com o avanço da medicina moderna nos tornando vivos por cada vez mais tempo e diante do maior caráter metafísico dos problemas, haverá uma valorização maior do profissional de psicologia e psiquiatria. Os problemas estão cada vez mais no cérebro, e será ele o foco das gerações futuras. A segunda é o valor do corpo entrar em tal detrimento que será socialmente aceito apenas como suporte para a locomoção de um cérebro. Não estou dizendo que a indústria da beleza vai cair até final de semana que vem (o que poderá até acontecer daqui a alguns milhares de anos - vide que a humanidade não se destrua antes), mas é bem provável que, aliado ao avanço da tecnologia, sejamos cercados por um mercado de estímulos de sentido, principalmente imagéticos. Compraremos imagens que nos saciem os desejos mais banais, e pagaremos um extra pelo som e o cheiro. E faremos isso no nosso quarto, assistindo filmes que mostram o coito físico como era feito antes do século LX, e achando aquele contato carnal todo muito estranho. Tudo porque compramos pacotinhos de hormônios estimulantes, difundidamente vendidos, e com oligopólios nojentos nos países periféricos. Nossos problemas serão a simples falta de serotonina e dopamina e, sim, nós vamos poder comprar-las e perguntar depois para o psicólogo porque estamos viciados nessas coisinhas.

O sofrimento relativista é um tópico ligado a problematização metafísica, mas não diretamente. Na verdade, já repeti e discuti exaustivamente esse tema que parece ser óbvio pra uns e ignorados por outros. State 1: O sofrimento é relativo. É sempre errado construir a idéia de que alguém está sofrendo por besteira. Alguém que passa fome no meio da rua pode sofrer a mesma quantidade que um garoto de terno num bar à noite, de classe média alta. Basta ponderar que os fatores catalizantes da diminuição dos hormônios serotonina, acetilcolina, dopamina, epinefrina e norepinefrina de cada um não são os mesmos. Oras, não importa o que dá baixa em meus hormônios, o que importa é que eles estão baixos. Dessa forma, alguém pode se suicidar porque perdeu um grande amor, um grande pai, um pirulito da barraca da esquina, o trabalho de Dacier, que quer que seja. E ele sempre teve um excelente motivo para acabar com sua preciosa vida, porque aquilo era de tamanha importância para aquela pessoa que permitiu que ela bagunçasse os neurônios dela. A verdade é que da dor de cada um, só sabe cada um. E não importa o motivo que a ocasionou, o que importa é o tamanho e o tempo que essa dor vai durar. E se vale a pena ficar suportando ela.

A verdade é que meu objetivo com esse texto não era incentivar a faculdade de psicologia ou a carreira de ambulante de hormônios, era apenas para apontar a importância da exponencialidade dos problemas intangíveis em relação aos tangíveis em nossa sociedade, e como esses problemas são relativos o suficiente para que seja necessária uma reforma na compreensão das pessoas sobre o conceito per si de problema. Mas com isso, colegas, eu não gasto mais meus hormônios.

Lucas.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

#iamthankfulfor

Não temos dia de ação de graças. É errado. É preciso agradecer. Na verdade, é preciso agradecer sempre, porque a graça já foi alcançada, quando se agradece. Agradecer, agrado, graça, tudo parecido. Pedir é um conjunto fora. Pedir almeja agradecer. Pedir a Deus é bom, Ele nos dá o que pedimos, mas agradecer a Ele, isso sim é bem melhor.

Esse ano em meu aniversário, não fiz pedidos, mas agradeci. E apaguei a vela. Um ano inteiro em branco de pedidos por aí, pela frente. Vou fazê-los, mas vou agradecê-los quando vierem. E não apenas a Deus, que me atende no que ninguém mais pode atender. Irei agradecer aos amigos e à minha família, porque provavelmente através deles é que irei ter minhas graças alcançadas.

À mamãe e à Luísa pelo amor caseiro
A Aline, pelo carinho de sempre, pelo dia a dia
A Lucas, pelas músicas, pelas caronas, pelos abraços
A Yuri, pelo companheirismo, pela alegria de carona, pelos sorrisos anestesiados ao ver companhia de dente arrancados
A Talita, pela nutella (que não foi utilizada corretamente, ok? Comi pura!) e pelas risadas
A Thaís, pelos ouvidos e conselhos, pelas noites de sábado
A Virginie, pelas novas gírias introduzidas em meu vocabulário e por Paco (e a Paco, por sua beleza)
A Ruan, pela sabedoria e pelo amor
Ao pessoal de Cardi, porque houve momentos bacanas ali
A professores, que me fizeram aprender com prazer (lista restrita, eh? Eh?)

Obrigada pela companhia. É preciso agradecer, eu agradeço a Deus por vocês e por vê-Lo no cotidiano através do amor dedicado.
Nina.

domingo, 22 de novembro de 2009

-Nossa, é mesmo? Não me diga!


Rasgando o envelope da correspondência, lembro do que pensava ao ver a premiação dos concursos de beleza. Pobre garota rica, Triste garota alegre é a Miss Simpatia. Ela não tá ali pra ser agradável ou sorridente. Não no íntimo. Lá ela quer ser a mais bonita do país, aparecer nas capas de revista, ostentar a coroa, desfilar vestidos.
O foda é que ela nem ganhou o primeiro lugar, nem o último. Aliás, que lugar ela ocupa mesmo? Quem é você na night, querida?Por acaso alguém já viu uma miss simpatia posando pra Vogue?
Percebam o dilema. Você não tem a menor aptidão à função que almeja. É a modelo que anda caindo do salto, tem as pernas tortas e o olho caído. Mas é a Miss Simpatia.
-Ah querida, que simpática que você é! Que sorriso, que graça!
E aquela criatura lá, travando uma luta filha da mãe com seu eu-nada-lírico, tentando se adequar ao papel.



É muito pensamento e pouca paciência pra metaforizar. Nessas horas vai só o pensamento solto que, acredito, fale por si só:
Provavelmente não há nada que me incomode mais que prêmio de consolação.

[Tali sobre tentativas falhas de ME agradar]

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Certidão: Poeminha à Certeza Total

Eu sei, rapaz, confesso
Que estava errado ontem,
E você certo.
Mas você não estava certo
De que eu estava errado.
Eu, desde o início,
Admiti a hipótese
De você estar certo.
Politicamente eu agia errado.
Mas estava aberto no meu erro.
Você, fechado, em defesa,
Amedrontado na sua certeza.
Errado espiritualmente
Eu estava certo,
E você, certo,
Se apoiava
Numa atitude humana viciada.
Tranqüilo, aqui estou eu, errado.
Certo, afirmado,
Certamente você está muito magoado.

Millor Fernandes

Rachel Queiroz.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Bate o sino pequenino...


Ele era cego. De nascença, coitado. Vivia tentando imaginar, de um jeito que eu nem consigo exprimir qual, as cores. A coisa mais difícil da cegueira, para ele, era não saber o que era azul, verde, branco e vermelho.

Vermelho. Ele adorava essa palavra e sonhava com o dia em que veria o vermelho. O Vermelho do mar, porque para ele a água era avermelhada e não azul como diziam.

E o dia chegou. Numa manhã ele acordou assustado porque algo de bem diferente acontecia. Era tudo muito estranho e ele tinha medo. Foram dias e dias meio amargos, diferentemente do que ele pensava, já que acostumar àquilo tudo era bem estranho. O garoto se sentia acuado, entristecido.

O pai, feliz por saber que seu filhinho podia, enfim, conhecer as cores, deu-lhe de presente um saco de pancadas, vermelho como todo bom saco de areia dos filmes, e disse para o filho que descarregasse suas frustrações ali, sempre que estivesse repleto. E o menino batia e batia no invólucro vermelho. Passava horas machucando as mãos, cada vez que via uma coisa e tinha que tocar nela para reconhecer.

Estava perto do Natal e, pela primeira vez ele poderia ver o presente. O pai, emocionado, pensou em dar algo bem marcante. -Uma bicicleta! pensou ele. E assim fez. Trouxe a bicicleta para casa e convidou um senhor fantasiado de Papai Noel para entregá-la na noite do nascimento do Menino Jesus.

No meio do jantar em família ouve-se o riso do bom velhinho. Atordoado, o menino corre até a porta e, ao ver o enorme senhor rechonchudo e vermelho, esmurra-lhe a boca do estômago. O Papai Noel cai, desfalecido, tamanha a dor da pancada (...)


Moral da história: ______________________________________________



[Tali, sobre seus momentos de Papai Noel]