domingo, 19 de julho de 2009

Souvenir de dia a dia

Amanhã é o dia do amigo. Eu sou nômade, e não me apego. Aliás, apego. Temporariamente. Mas desapego quando preciso. Mas as coisas eternas são fortes, e o que fica de verdade, fica. Amanhã é o dia do amigo e eu tenho muitos deixados pelo mundo. A amizade não é a mesma, o contato, tampouco. O cotidiano mudou, as pessoas mudaram, pensamentos, modas, cidades, gostos.

Mudou tudo.

Mas o momento congelado e bom ficou. E ele poderia ser retomado com muitos que ficaram pelos meus caminhos. Com novas óticas, novas coisas. Eles provavelmente não serão retomados, porém. Agradeço os antigos, sua contribuição para a minha vida. Lembro-me deles com carinho, de nossos momentos. Gostaria de ter escrito em outros 20 de junho e dizer a eles nesse dia quanto os amava. Mas eu devo ter dito, em outros dias de junho, de agosto, de abril. No natal, nos aniversários. Em dias de semana, de aula, de chatice. Fico feliz por não ter deixado de amá-los, e de dizer, e de demonstrar. O momento passado e vivido foi o importante.

Então, vivendo o hoje, eu agradeço pelos amigos cercanos, os amigos cotidianos. Os meus amigos atuais. Pelo que eles me dão e pelo que me deixam dar. Digo, porém, que não deveria haver data de amizade. De redenção, de reviravolta para ela. "Natal da amizade". Não. A amizade tem que ser conquistada a cada dia, vivida, relembrada, curtida, elaborada. Amizade não tem data comemorativa no varejo, não tem presentão. Ela é feita de presentinhos e lembrancinhas. De souvenirs, que em francês são lembranças e em português, lembrancinhas. É nesses souvenirs que a amizade se constrói.

Esse texto é um souvenir para agradecer a amizade de quem sabe e lerá. Obrigada por estar na minha memória, mesmo que as coisas mudem, vocês ficam. Porque souvenir a gente guarda com carinho, que são lembranças de lugares e tempos felizes. E vocês são tempos felizes.

Nina.

sábado, 18 de julho de 2009

Família rede Globo

"Querido Papai Noel,

Esse ano quero uma coisa muito especial, que estou pedindo porque não consegui fazer sozinho. Eu queria que o senhor me transformasse em uma televisão. Aham, uma televisão. Assim eu poderia ter tudo que eu quero. Teria a atenção do meu pai, que chega cansado do trabalho e não pode fazer mais nada sem ser ver o noticiário. Eu ia ter o carinho da minha mãe, que chora quando morre o homem da novela, mas não tá nem aí quando eu levo uma queda e choro por horas. Eu ia ser o motivo de vida de dona Marcia, que faz comida aqui em casa e passa horas assistindo os cozinheiros que ensinam o que tem que fazer. Até meu irmão ia lembrar de mim, Papai Noel, porque ele adora ficar assistindo filmes até de madrugada. Então, esse ano, eu não quero mais o carrinho do ano passado, nem aquela bola muito legal que o senhor me deu, eu queria mesmo... era ser uma televisão."

Lucas, lembrando como a vida o ensinou a dar valor às coisas que realmente importam.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

abstinência alcoolica

Tira a mão de mim! Já te falei nãoseiquantésimas vezes que preciso de uma porra dum espaço! Quero respirar, me deixa! Não suporto te ver plantado tal qual uma sequóia bem em minha frente. Quero passos largos, abrir os braços, me sentir livre. Para de tolher meus instintos. Já chega! Não põe mais esses olhos de reprovação sobre as minhas atitudes. Eles não me importam, seu puto! Caralho, que inferno, para de agir assim. Eu sei que posso estar fazendo muito mal a ela, mas to pouco me fodendo pra isso. Aliás, tô sim. Tô me divertindo com isso, saca? Sexto sentido não falha, amigo, ou ela ou eu. E, claro, vou me livrar daquela vadia tão logo a poeira abaixe. Não me toca! Vai se sujar de sangue. Róseo. Vermelho. Rubro. Púrpura. Escarlate. Quase intenso. Ainda vivo. Tô te protegendo, entende? Não te quero envolto nessa teia. É coisa minha.Você me conhece, sabe que preciso mastigar cada mazela. Sangue é bom, revigora.Tá, tá. Não fica mal, meu velho! Falo montes de merda, eu sei. Mas eu gosto de você. Gosto mesmo. Você não entende o corpo quente, mente sã, meu lema. Eu compreendo você. Vou refletir melhor sobre isso, cacete. Culpa sua, seu maldito filho da puta. Traz mais um copo. Vamos beber até cair. A noite é longa. Vingança? Ah, sim. Penso nisso amanhã. Tu é foda, cara. Dá cá um abraço. Garçon, aquela que desce redondo!


Tali: não bebe, não fuma e não dança.

sábado, 11 de julho de 2009

Nesses tempos nossos

O pobre é o novo rico
O carro, o novo trem
E o caro é o novo barato.
O quê, o novo quem
O robô, o novo cão
A fumaça, o novo ar
O verde é o novo preto
A piscina, o novo mar
O computador, novo irmão
O rápido, novo devagar
O feio é o novo bonito.

Nina, fazendo poesias com aforismos diários do G5.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

nem tudo que dói é espinho

cristina, cara, deixa eu sentir saudades de você, deixa? porque até o ruim em se sentindo é bom - saber que se é vivo, me entende? não é que eu não goste de você - gostar gosto e muito - diria assim que te amo - talvez até que você é essencial. mas você há de convir, cristina, que cada um cada um; nem só você deve me vir, e eu também, me entende, cristina? nem chorar nem dramar, nada que adiante, "contenha suas emoções!", sabe? saber jogar, saber lidar. amor nem é só amar; há doses, cristina, eus e vocês, há o certo da mistura que é pra não deixar passar do ponto - não te estragas, não me estrago. mas não venha aqui, aproveitando a brecha, a fenda, a falha - você como sempre uma excelência em sentires - me acusar de não ser intenso. pois que sinto muito e numa tal intensidade que prefiro manter segredo a respeito; você sabe, sabe sim, que há o intenso e o exagero: você está quase cabendo numas extravagâncias, cristina. desculpe assim ser sincero: veja bem você que às vezes até amando a gente fere. e eu sei que você sabe disso: você sabe é muita coisa: só que não diz nada - aliás diz ardil e isso não gosto. cristina, ame aos pouquinhos, eu sei bem que você consegue repartir.

yuri, em co-autoria com nina. dedicado a mim.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Eram todas as vezes...

Os olhos, antes ágeis e brilhantes, marejaram. Tão logo vimos seu rosto repleto de gotas. Não, não estou chorando, se apressou em dizer Antonia. São as lentes, eu as tirei antes de vir pra cá. Tudo bem, senhora, disse o mestre, logo te darei uma poção e não haverá mais lágrimas. Vai doer? perguntou a moça impaciente. Um silêncio pairou sobre a sala escura. Vai, eu sei que vai, pensava ela. Num canto da sala, um discipulo rabiscava pequenas fórmulas, enquanto outro acompanhava o mestre. Este, por sua vez, tinha em mãos um pequeno caldeirão, com um líquido escuro, que logo ofereceu à garota. Isso vai me fazer dormir? disse Antonia, num sobressalto. Só um pouco, logo você estará livre, falou o mestre no auge de sua paciencia. Ela dormiu, sonhou e não acordou. Nunca acordamos. É sempre outro de nós que nasce a cada manhã. Bom dia pro meu novo eu. Adeus pro meu eu de ontem. Não sinto saudades, nem ansiedade. É só um ciclo.


Tali, voltando à ativa.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Deu um amanhecer violento, e não mais podia dar.


A amiga Aline fez o seu adendo azul, em um texto mais abaixo. Azul me lembrou a tranquilidade medíocre que têm as pessoas... tranqüilas.


Mas eu concordo com Aline, e não gosto da tranquilidade, do morno, do meio. Quero mais é o fundo e o céu, o inferno e a terra.


Piscina rasa não dá emoção. Primeiro andar não dá emoção. Viagem para Quipapá sem amor no interiorrr, não dá taquicardia. Sem taquicardia, sem emoção.


Perguntem a Aline o que é o azul. Ela dirá que azul é ruim. Não é a sua cor preferida. Aline prefere um céu em fogo, nascendo ou morrendo, flamejante e violento, do que um azul com nuvenzinhas, passarinhos, azul celesta/azul bebê todo dia. Não é o céu a questão, na realidade.

E sou como Aline, que prefere o sol e suas nuances do que aquela imensidão tranquila e azul.


Melhor um "amanhecer violento" ou um "sul, vertiginosamente azul, azul"(/carlospenafilho).


Errata: azul, paradoxalmenteee é a cor preferida de Aline.
Nina, em um momento preto e branco.

Doeu?

"Ninguém conhece essa dor de escritor, Cristina. A gente passa três madrugadas. A primeira é sentindo uma dor por não sei quem, ou não sei o que. Aí vem a segunda madrugada que ainda dói e que você sente que precisa escrever pra expurgar isso. E vem a terceira, que a gente rasga quatro blocos inteiros porque acha que ninguém vai entender o que você está sentindo, naquelas palavras. Quando você finalmente acaba essa codificação de sentimento em um pedaço de papel, você mostra pra alguém. Alguém querido. Aí vem essa pessoa e fala: 'Tá bom'. Ou ainda 'tá ruim'. Caralho, literatura não é comida. Eu não quero saber se tá bom ou se tá ruim, eu quero saber se doeu".

Lucas, numa conversa de seu eu-escritor com seu eu-leitor.

Azul

Será uma contradição achar que uma cor transmite tristeza e ao mesmo tempo gostar tanto dela? Parece que eu gosto de sofrer. Masoquista, disseram.
É verdade que a tranqüilidade me incomoda, me sentir “ok” me incomoda. Sem grandes tristezas nem grandes felicidades. Você devia viver em uma montanha russa, me disseram.
Não acho que gosto de tristeza...
Eu acho que não gosto de tristeza.
Mas gosto menos ainda de não sentir algo intenso. Estar morna. Talvez por isso eu seja tão dramática. Exagerada, já me disseram.
Me dizem muitas verdades.

aline, devaneando