terça-feira, 2 de novembro de 2010

pra quem vira a esquina

olha, eu posso até te mandar embora, mas nunca vou tirar a cópia das chaves debaixo do capacho, só pelo vício de te ver voltar e abrir a porta, olhar as horas, limpar os pés e me procurar pelos quartos, pelos corredores, pelas varandas. o amor é isso, todo torto, todo espinhoso, é uma flor bela e cheirosa, mas tem seus espinhos, atrai insetos que te picam e envenenam, é uma moeda que gira que gira que gira, meu amor é isso. mas você, sabe-se lá por qual encanto, por qual sorte, por qual sina, nunca rejeita, nunca maltrata a flor vaidosa, que ora enaltece ora humilha, ora afaga ora pisa, você vê no início do dia que eu, quando olho o espelho, em troca cedo um olhar sem sonhos à contemplação, e parece que te basta como desculpa, como se isso soprasse o arranhão de minhas unhas. meu amor é isso, espécie de ouriço, remédio pra tosse, dose de ócio, oásis de tédio, vício. de ouvir atrás da porta o murmúrio dos teus passos, se agachando pra apanhar as chaves debaixo do capacho.

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