domingo, 5 de junho de 2011

Coffee Break

Era um sábado meio morno e parcialmente amargo, com no máximo uma colher de chá de açúcar. A mesinha de esquina daquela cafeteria era a minha favorita, e de vez em quando, por ventura, eu parava lá, mas não naquele dia. Havia um casal que discutia aos berros e que me fez pensar se é melhor ser servido quente ou gelado.

Lembro bem que a moça gritava incontrolavelmente, como se tivesse bebido 1400 mg de cafeína. Dizia saber que ele passeava com outra menina e que ela era mulata, dengosa e cheirosa. Lembro também de ele se desculpar dizendo que era só uma amiga, que o mais próximo que chegaram foi algo como um aperto de mão e meio abraço. E aí que aconteceu a monstruosidade. Em um surto que, de certo, foi desesperado, a moça pegou com vontade uma xícara que eu conhecia a muito tempo e jogou contra a parede, despedaçando uma antiga amizade minha.

Olhando aquilo tudo de meu pires de porcelana, me coloquei a pensar como os humanos são mesquinhos. Eu mesma já tinha passado por muitas lavouras. Centenas de pessoas já tinham colocado em mim a boca e bebido com prazer o café que eu proporcionava. Isso nunca diminuiu o deleite em seus olhos e o suspiro que exalavam. Era por isso que eu me perguntava por que tantos clientes insistiam em ter um outro só pra eles. Mas, depois de tanto refletir entre uma bandeja e outra, eu consegui colher uma resposta.

Os humanos tem um buraco profundo. Um tão vasto vazio, que eles precisam encher com alguma coisa e, muitas vezes, essa coisa é alguém. De repente, eles começam a achar que precisam desse par para ser um só; e esquecem que eram um só antes disso. É um problema que ando chamando de “O outro sou eu”. É uma ideia tão maluca que tenho até vergonha de vir aqui compartilhar.

Outro dia eu descobri que os próprios humanos sabiam do que eu estava falando. Eles usam palavras diferentes para falar sobre isso: ciúmes, traição e fidelidade. Sempre com um “meu” antes de tudo, falavam “meu namorado e amante”. Até hoje, acho graça disso. Continuo eu aqui, completando o meu vazio com café e servindo as bocas repletas de outras línguas. E os humanos continuam lá, enchendo o vazio com apenas um alguém, que vai embora depois.

Lucas, em conto/crônica para cadeira de Redação Jornalística 4.

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