sexta-feira, 29 de outubro de 2010
Murs
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Sobre caçadores e Deus
Talvez já tenha chegado a era que devemos ficar abarrotados dos caçadores de afeto. Principalmente aqueles que invisivelmente esbarram na sua própria necessidade de mostrar-se abundante dele. Propagando-se discretamente ou forçosamente, salpicam imperativos naqueles que orgulhosamente deveriam ser considerados "queridos" e não preenchedores de necessidades individuais.
Ser carente é uma natureza óbvia, psicologicamente falando. Todos nós somos. A problematização da questão é em termos de auto-controle. Uns mostram que são, outros não. E aí continuamos achando que uns são e outros não, porque é sempre a aparência que dita os juízos mesmo. E talvez por causa disso que a relação direta entre carência e humanidade esteja ainda distante de ser considerada um juízo analítico, e cá estou eu argumentando que poderia até não ser mais um juízo sintético. Mas obviamente, o é.
É apropriado que seguremos as rédeas do cavalo em que estamos montando, não deixando que ele cavalgue apenas atrás de nossas necessidades imediatas ou pueris. A construção do auto-controle é, em parte, o que distingue alguém extremamente maduro de alguém extremamente débil. E uma hora temos que parar de nos preocupar com sermos completados com pessoas, arte, funcionalidade, e passarmos a exercitar nossa suficiência em si. E, em seguida, cuidar pra que não fiquemos muito niilistas depois.
A verdade é que a concepção de um Deus onisciente, onipotente e onipresente foi elaborada pra resumir que o conceito desta Entidade é que ela é independente de tudo e de todos. E apesar de, em última instância, ser um objetivo utópico para reles mortais, chegar mais perto dessa situação é se tornar mais Deus. O convite é esse. Deus é de quem chegar primeiro.
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
:V :)) (sábias palavras gordinhas)
Estavamos na casa de Lucas, em uma saída que uns chamariam de gastronômica, outros de acolhedora, outros de gordinha. Era tudo isso. Eu cozinhava um macarrão, Aline cortava e comia uns queijos, Lucas dizia para eu não derrubar o macarrão na pia (tolinho), e então comemos, lavamos os pratos, Yuri, que já tinha chegado, abriu a geladeira e viu três copos de nescau. Como chamam aqui, nescau = leite + chocolate, ambos em pó, diluídos em água.
terça-feira, 26 de outubro de 2010
Contenidos
Essa overdose ofegante, mais ofegante porque abafada, essa vontade contida, essas caras excessivas
Essas caras selvagens porque o ruído é domado
(Não somos contidos
Contidos estamos, em nós mesmos, e no quarto, e na sala, e no escuro)
Descontenhamo-nos, descontando em nós mesmos por vias diversas,
Contentes, constantes, cantantes e contidos.
Sorrisos desmedidos, sono abissal.
Nina, e esses contenidos ruidosos.
Kaleótico

Vigiar-se a si para andar na linha e vigiar ao outro, para que ele também ande, é papel inerente a todos nós, desde que conhecemos o que é normal. O normal é a linha. Mas uma linha é algo abstrato. Linhas podem ser representadas por uma corda. É difícil andar em cordas.
A loucura pode ser o que está fora da linha, ao lado da linha, tocando a linha. Porém, o que define a linha? Somos nós, nossos processos de disciplina para a manutenção da normalidade e da ordem. Somos nós os vigilantes do panóptico, apontando os comportamentos de nossos vigiados. Somos nós observantes e observados.
Luiggi Pirandello, em seu livro "Um, Nenhum, Cem mil", tenta encontrar a sua própria imagem no espelho. Porém, a imagem olha para ele, e assim que Gegê (nome do autor-personagem) enxerga-se no reflexo, já não é o mesmo Gegê que não tem olhos sobre si. Pirandelo queria flagrar-se a si, em um momento onde ele não estivesse sendo observado. Tarefa árdua. Ele afirma que a partir do momento onde pousam olhos sobre o individuo, esse já se modifica, para caber em moldes tais e tais.
No panóptico, os encarcerados recebiam uma determinação coercitiva. Segundo Foucault “o indíviduo se transforma no objeto de uma informação, nunca sujeito em uma comunicação” (p. 166). Taxar o individuo excluir a sua alteridade só o torna mais fragil e propenso ao poder dominador. Taxar indivíduos não é o importante. Vigiar e punir não é o fundamental.
Fundamental é saber que a linha da normalidade é uma corda que não deve amarrar e prender, mas servir de apoio para que as pessoas caminhem em bem-estar consigo mesmas. Que olhem para si, se vigiem em seu bem-estar, e que esse bem-estar seja o parâmetro de normalidade.
Nina - Editorial de loucura (com os erros de revisão, marca registrada da autora).
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
Liberdade enclausurada

Eu, confesso, fui rude em dizer que você estava preso
terça-feira, 12 de outubro de 2010
Roda Gigante

Dai que Nietzsche falava sobre um tal de Eterno Retorno que é meio frustrante, meio reconfortante. Que fica no meio termo entre o copo metade cheio e o metade vazio. E entre tantos meios e metades que são esses, é que parece que criamos a nossa identidade. Parece que moramos no tempo que se repete indefinidamente, quando quer:
“Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência”. (A Gaia Ciência)
Ora, meio que faz sentido. Não somos cada vez mais afeto e cada vez menos afecto com o passar do tempo? Não criamos raízes tão profundas que a direção do nosso crescimento se torna linear e previsível? Ao contrário da criança que aprendeu a falar agora, não somos mais um mundo de possibilidades. Somos um mundo de escolhas forçadas e, ao mesmo tempo, consentidas.
O bem e o mal, o prazer e o sofrimento, são instâncias complementares da realidade. E como a realidade não tem objetivo, pois se tivesse já teria o alcançado, a alternância entre elas é constante. Dado que o tempo é infinito, tudo se repetirá, inúmeras vezes, em “loops” eternos.
Há um certo desconforto confortado nessa ideia. Mas há também a segurança da previsibilidade daquele seu amanhã vindouro. Quanto a mim? Que venha. Quero viver tudo de novo, de maneiras diferentes. Topar e escorregar nos mesmos lugares e rir das mesmas contradições. Parece que, no final das contas, entrar na máquina do tempo não é só uma ilusão.
Lucas.
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
Rastro indelével.
Quem escreve, escreve muito. Aproveita metade de um sentimento pra fazer uma poesia inteira. Amiúde, uma poesia de sentimentos passageiros, com prazo de validade, daquela que daqui há dois meses será um não-sei-o-que sobre algo-aí. Mas em cada poeta, em cada prosador, há frases feitas. Frases que a vida o ensinou, regências e léxicos que foram aprendidos através dos sentimentos que duraram e que ficaram. Soluções banais para expressar sentimentos raros. E usadas a todo momento pra mostrar o luto ou a alegria, acabam se tornando essa miscelânea de distinguidos iguais. Uma marca, uma assinatura disfarçada, figurante e protagonista do nosso livro em construção. Todo texto do mesmo autor é, ultimamente, o mesmo texto, reorganizado, ressentido, reamado, reembaralhado. É por isso que quando o fim de meus dias chegarem, embrulharei de herança um único texto, aquele meu último, que de um jeito ou de outro, carregará todos os sentimentos que eu tive na vida. E, até lá, acho que minha poesia está mesmo precisando me demitir como funcionário, os meus textos ficam muito melhor quando estão assim, sem mim.
Lucas.